<aside> 🎼 Música escrita em MSX BASIC
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Nos anos 90, alguns brinquedos faziam a cabeça da criançada: bicicletas Caloi, tamagotchi, tazos, super nintendo, e é claro, o Meu Primeiro Gradiente. Lançado em 89 pela empresa Gradiente, era um tocador e gravador de fita cassetes que vinha com um microfone — alguns ouvintes devem ter memórias claras deste brinquedo por seu design estiloso e do uso de cores vibrantes.
Alguns ouvintes podem também se lembrar de outro aparelho que lia fitas cassetes, mas não com o propósito de tocar áudio, e sim de guardar programas de computadores. Muitos computadores pessoais no começo dos anos 80 usavam como periférico um gravador/leitor de fitas cassetes como uma alternativa mais barata aos disquetes e aos cartuchos. Entre eles, o computador MSX Gradiente, lançado quatro anos antes pela mesma empresa do Meu Primeiro Gradiente.
Um periférico dos computadores pessoais da linha Commodore: um leitor e gravador de fita cassetes.
MSX Gradiente. Foto original pelo usuário Carlosar da Wikipedia (CC BY-SA 3.0).
Inicialmente uma empresa fabricante de eletrônicos focada em equipamentos de áudio, a Gradiente viu um forte crescimento nos anos 70: aproveitando os benefícios fiscais oferecidos pela Zona Franca de Manaus, foi lá que a Gradiente implementou sua primeira fábrica em 1972.
Fazendo várias parcerias com outras fabricantes, a Gradiente entrou em vários outros segmentos além do mercado de produtos de áudio nos anos 80: em 1983, por exemplo, a Gradiente lançou o videogame Atari 2600 no Brasil. E foi em 1985, que a empresa entrou no ramo da computação com o lançamento do computador pessoal MSX Expert 1.0, ou como ficou também conhecido, MSX Gradiente.
O MSX Gradiente, como o próprio nome dá pista, seguia a arquitetura MSX. Para entender a história dessa arquitetura, vamos viajar agora para terras japonesas. No começo dos anos 80, havia uma gama muito diversa de computadores pessoais: entre eles as séries PC-6001 e PC-8000 da NEC e os FM-7 e FM-8 da Fujitsu. Computadores de diferentes fabricantes, porém, eram extremamente incompatíveis entre si. Foi nesse contexto que Kazuhiko Nishi, vice-presidente da empresa ASCII e representante da Microsoft no Japão, teve uma brilhante ideia.
Em 1983, Nishi propôs uma arquitetura padronizada para computadores pessoais, chamada MSX. A arquitetura era suficientemente aberta para permitir que fabricantes diferenciassem o seu computador MSX, mas ao mesmo tempo era fechada o suficiente para que computadores do padrão MSX fossem compatíveis entre si. No Brasil, dois computadores MSX foram lançados: o já citado Expert pela empresa Gradiente, e o Hotbit, feito pela Sharp do Brasil.
Ao ligar um computador da série MSX, uma tela azul se abria: diferente da temida tela azul de pane do Windows 98, essa tela azul mostrava um prompt de comando. Neste prompt, o usuário podia escrever um comando para carregar um programa que estava na fita K7, ou até mesmo começar a escrever um programa na linguagem de programação BASIC.
Tela de início do MSX: imagem capturada do emulador WebMSX
Escrever um programa? Sim, nessa época as interfaces do computador ainda não eram muito amigáveis, e ao ligar o computador o usuário já poderia se tornar um programador. Simplementes digitando
10 PRINT OI
20 RUN
e apertando ENTER já fazia o computador mostrar OI na tela.
De fato, no mesmo ano do lançamento do MSX, foi publicada a primeira revista MSX Micro, patrocinada pela Gradiente e pela Sharp do Brasil. Essa revista, com o objetivo de popularizar o computador pessoal MSX, vinha com códigos que o leitor poderia copiar e digitar no seu micro MSX e criar seu próprio jogo ou aplicativo na linguagem BASIC, do inglês “básico”, e cuja abreviação significa “Beginners' All-purpose Symbolic Instruction Code”, cuja tradução seria, a grosso modo, “código de instrução simbólico para iniciantes e para todos os propósitos”.
Curiosamente, uma das contribuintes — ao menos de acordo com algumas fontes — para a criação da linguagem BASIC é conhecida por ser a primeira doutora em ciência da computação dos Estados Unidos - e quase a primeira pessoa a receber o título de doutor nos Estados Unidos: Irving C. Tang recebeu o título de doutor apenas algumas horas antes.
Nascida em 1913 em Cleveland, no estado de Ohio nos Estados Unidos, Mary Kenneth Keller entrou na congregação religiosa “Irmãs da Caridade da Bem-Aventurada Virgem Maria” em 1932 e fez os votos para se tornar freira em 1940.