<aside> 💡 De morador de rua para o MIT, foi uma das primeiras pessoas a modelar uma rede neural. Ele propôs formulações teóricas de referência da atividade neural e processos gerativos que influenciaram diversos campos, como ciências cognitivas e psicologia, filosofia, neurociências, ciência da computação, redes neurais artificiais, cibernética e inteligência artificial.
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Inteligência artificial e rede neurais artificiais
"A inteligência artificial (IA) já existe há muito tempo. Mas não se tornou popular na indústria até o século 21. Aqueles que viviam no final dos anos 90 e no início dos anos 2000 podem ter ouvido falar de correspondência de palavras-chave via IA da Google ou da tecnologia de reconhecimento de voz da Apple. E esses eram apenas os protótipos, estabelecendo a base de como usamos a inteligência artificial hoje" 🤖
De fato, caros ouvintes, o que você ouviu até agora foi dublado pela IA do site voicemaker.in, escrito por uma outra IA (a j1-jumbo da empresa AI21 studio) e semi-traduzido por outra IA (o Google Translate da Google)!
A j1-Jumbo é uma arquitetura de rede neural com 178 bilhões de parâmetros. Mas o que é uma rede neural? Vamos descobrir isso no episódio de hoje. Para começo de conversa, vamos parabenizar a IA, pois ela acertou ao falar que o primórdio da inteligência artificial existe há algum tempo. A unidade mais fundamental de uma rede neural se chama um neurônio artificial ou, ainda, perceptron, e uma das suas primeiras conexões com computação foi feita em 1943 por Warren McCulloch e Walter Pitts, o protagonista do nosso episódio de hoje.
A vida de Walter Pitts não foi nada fácil: natural de Detroit e nascido nos anos 20, Pitts sofria bully constantemente, e era considerado como estranho pelo seu próprio pai e irmãos.
Auto-didata, aprendeu Grego, Latim e Matemática por conta própria, tendo um talento natural para Lógica. Conta-se que aos 12 anos passou 3 dias escondido na biblioteca de sua cidade lendo todos os volumes do Principia Mathematica. Escrito pelos filósofos matemáticos Alfred Whitehead e Bertrand Russel, foi um trabalho fundamental na lógica matemática: seu objetivo era formalizar todo o conhecimento matemático usando o mínimo de axiomas possíveis. A prova de que 1+1=2, por exemplo, só é completa na página 86 do Volume II (da 1ª edição).
Foi no meio desse extremo formalismo técnico que Pitts se encontrou — e não somente se encontrou, mas de acordo com uma anedota, também encontrou um erro no Principia, o qual comunicou a Russel por meio de uma carta. Impressionado, Russel convidou Walter a estudar na Grã-Bretanha, mas Pitts não pôde aceitar o convite... afinal, ainda tinha apenas 12 anos de idade!
Com 15 anos, Pitts ouviu falar que Russel iria visitar a Universidade de Chicago. Pitts fugiu de casa em direção ao estado americano de Illinois e compareceu à palestra de Russel. Foi lá que Pitts conheceu Jerome Lettvin, que estava estudando biologia na Universidade de Chicago. Lettvin e Pitts viraram melhores amigos.
Pitts começou a assistir aulas na Universidade de Chicago mesmo morando nas ruas e sem se inscrever oficialmente como um estudante. Lá, ele estudou lógica com Rudolf Carnap, um dos grandes nomes da filosofia do século 20, e biofísica com Nicolas Rashevsky, um dos pioneiros da biologia matemática.
Pitts começou a fazer parte do grupo de estudos de Rashevsky, trabalhando ao lado de vários pesquisadores, como o matemático Householder — cujo maior legado é associado a algoritmos numéricos. De acordo com Lettvin, foi nessa época que Pitts começou a pensar no cerébro como uma máquina lógica.
Foi durante esta época também que Pitts e Lettvin fizeram uma das primeiras sátiras com artigos científicos: usando a metodologia de Rashevsky, escreveram um modelo matemático para psicoses que descrevia desde bipolarismo até catatonias de Kahlbaum. Fora Pitts e Lettvin, ninguém entendeu que o artigo era uma brincadeira.
Por volta do fim de 1940, Lettvin e Pitts foram apresentados ao cientista Warren McCulloch - um dos futuros mentores e co-autores de Pitts. McCulloch, um dos fundadores da cibernética, tinha uma educação interdisciplinar impressionante: estudou teologia, filosofia, psicologia e fisiologia.
No seu discurso "What is a number, that a man may know it, and a man, that he may know a Number", Warren McCulloch lembra de um dos seus diálogos com o teólogo cristão Rufus Jones:
<aside> 💬 — Warren, o que você será daqui a alguns anos? — Eu não sei — E o que você irá fazer? —Também não sei, mas tem uma questão que quero responder: "o que é um número, para que o homem o conheça, e o que é o homem, para que ele conheça o que é um número?". — Meu amigo Warren, enquanto você viver você será ocupado!
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